Quando a fé nos ensina a caminhar sobre o caos

“Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27)

Vivemos dias onde o medo se tornou um companheiro silencioso: guerras que estouram do outro lado do mundo mas nos afetam no mercado local, mudanças climáticas que tornam as estações imprevisíveis, redes sociais que espalham angústias com a velocidade de um toque, notícias que nos fazem sentir frágeis diante de um mundo fora de controle.
 
Não é exagero dizer que a humanidade enfrenta uma epidemia de ansiedade. Psicólogos e psiquiatras alertam para o crescimento dos transtornos ansiosos, especialmente entre os jovens. O medo do amanhã, ou até do presente, tem paralisado corações, dificultado decisões, minado relações.
 
Neste contexto, o episódio bíblico em que Jesus caminha sobre as águas (Mt 14,22-33) oferece mais do que uma cena espetacular: ele revela um caminho espiritual e psicológico para lidar com a ansiedade existencial.

O mar como símbolo do caos

Na tradição bíblica, o mar representa o caos, o abismo, a ameaça. Pedro e os discípulos estão no barco, em meio à escuridão e à tormenta, e Jesus vem caminhando sobre aquilo que mais assusta: o mar revolto. Ele não remove o caos, caminha sobre ele.
Aqui, a fé não é fuga da realidade, mas confiança ativa que nos permite atravessar o medo sem sermos tragados por ele.

O medo que paralisa

Pedro caminha sobre as águas enquanto mantém o olhar fixo em Jesus. Mas quando dá mais atenção ao vento e às ondas, afunda. Essa dinâmica é profundamente psicológica: quando perdemos o foco daquilo que dá sentido à vida, somos engolidos pela ansiedade.

Como dizia Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração e pai da logoterapia: “Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”. A ausência de sentido gera vazio, e o vazio grita. A ansiedade muitas vezes é o grito de uma alma desconectada do seu centro.

Jung e o inconsciente do mundo

Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, por sua vez, advertia que os grandes medos da humanidade não vêm apenas do que está fora, mas do que carregamos dentro. O medo do caos é também o medo da nossa própria profundidade. Jesus, ao dizer “Sou eu, não tenhais medo”, convida Pedro a confiar não apenas nele, mas também na própria capacidade de atravessar o inconsciente sem se perder.

 

A travessia é espiritual e psicológica. O caos externo só é enfrentável quando o caos interno é olhado com coragem, fé e presença.

A fé como âncora na tempestade

O mundo está instável. Isso é real. Mas é exatamente por isso que precisamos reativar o que nos ancora. A fé, quando amadurecida, não é ilusão ou negação dos fatos, mas um eixo profundo que permite respirar mesmo em meio às ondas altas.

Jesus não tirou os discípulos da tempestade imediatamente. Ele os encontrou nela. E ali revelou que a presença dele transforma o medo em coragem.

A ansiedade não é sinal de fraqueza. É sinal de que algo dentro de nós está tentando se ajustar a uma realidade que já não é segura como antes. Mas o medo não precisa ser o senhor da nossa história.

Jesus continua dizendo: “Sou eu, não tenhais medo!”

“Fé não é caminhar quando tudo está calmo, mas confiar mesmo quando tudo
balança.

Autor: Pe. Adriano da Levedove

Padre, psicólogo, pedagogo e estudioso da psicologia analítica junguiana.
Contato: alevedove@gmail.com

“O melhor lugar para se estar é no Seu Coração, Jesus!” – Pe. Adriano da Levedove

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